Um cantor apregoava que eles não sabem nem sonham e que o sonho comanda a vida. Tantas vezes cantamos e ouvimos essa acusação, na voz grossa e rouca do cantor.
Como um poema, cantado por um grupo de mulheres em passeio, a atestar num cântico amoroso de que uma gaivota voava. Voava... Por causa de um ideal de liberdade.
Tantos silêncios, tanta solidão!
As gaivotas que lhes traziam o cheiro a mar nas asas. Uma gaivota voava, voava, cantavam elas... E agora? Agora voam os carreiras e outras coisas esquisitas do género.
Ninguém que ame a liberdade jamais poderá esquecer que uma gaivota voava... Mas as gaivotas voam, vejam, as gaivotas ainda voam! Que os poetas e os músicos jamais silenciem o doce nome da liberdade - as gaivotas nunca deixarão de voar nem mesmo os que já perderam a voz, deixarão de sonhar!
Somos livres (uma gaivota voava voava)
Letra e música: Ermelinda Duarte
Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo cualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.
O meu contributo ao Abril de 74